Google+

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O Super Bowl e a mania de ser grande


Domingo passado aconteceu a quadragésima sexta final do Super Bowl nos Estados Unidos. Pra quem não está familiarizado, o Super Bowl é como uma Super Copa ou Recopa, onde os campeões das duas conferências de futebol americano (American Football Conference - AFC National Football Conference - NFC)  se enfrentam pra ver quem é o grande campeão da NFL (National Football League), ou seja, o campeão nacional.
Confesso que não assisti ao jogo por simplesmente não me interessar por futebol americano - acima de tudo, acha o jogo extremamente maçante e individualizado -, mas sei que muitas pessoas de minha convivência - real e virtual - o fizeram.
Ora, é fato que a NFL tem expandido sua atenção para fora dos Estados Unidos, buscando novos mercados consumidores dado a crise econômica pela qual o país passa desde 2008. O Brasil tem sido um deles, onde a expansão do futebol americano ocorre tanto dentro como fora de campo.
Dentro de campo, temos dois campeonatos nacionais sendo disputados - Torneio Touchdown e o Campeonato da LBFA (Liga Brasileira de Futebol Americano) -, totalizando 26 equipes participantes. Fora de campo, temos a AFAB (Associação de Futebol Americano no Brasil), responsável pela seleção brasileira de futebol americano e pelo campeonato nacional de seleções, e na qual estão filiadas oito federações estaduais e quatro times que representam seus estados na mesma. Há, também, a LINEFA (Liga Nordestina de Futebol Americano), responsável pelo campeonato regional na modalidade.
Além disso, a transmissão dos jogos da NFL tem tido certa perenidade na TV a cabo: a ESPN transmite jogos ao longo de toda a temporada - em específico, os wildcards, os play-offs e o Super Bowl. Nesse ano, o Esporte Interativo também transmitiu a final da competição.
Bem, voltando ao Super Bowl, ele é, hoje, o principal evento televisivo dos Estados Unidos, estando, inclusive, para além das próprias barreiras do esporte. Tanto é assim, que boa parte das expectativas com a partida estão nos comerciais que serão lançados durante a partida bem como no show do intervalo - esse show do intervalo é  literal e, nesse ano, teve a Madonna se apresentando pela primeira vez no evento
Com isso, vejo que os números de audiência do Super Bowl - nesse ano, quase 70 mil pessoas estiveram presentes no Lucas Oil Stadium (Indianapolis, Indiana) e, só nos Estados Unidos, foram 111,3 milhões de expectadores (média de 47,8% de audiência) - tem muito mais relação com essa publicidade do que com o esporte em si. Não sei dizer quando começou esse mutualismo entre a indústria do entretenimento e a NFL, mas creio que tenha sido no começo da década de 1990, quando o futebol americano começou a se  popularizar nos Estados Unidos depois de anos de transmissões televisivas. Hoje, um espaço de 30 segundos no intervalo do evento custa US$ 3,5 milhões (R$ 6,1 milhões).
Tentando entender se é o futebol americano ou o Super Bowl que é popular, procurei por números de audiência ao longo da temporada. Descobri que, ao longo da temporada regular da NFL, a média de audiência em todos os canais que a transmitem nos Estados Unidos foi de 17,1 milhões de espectadores. Ou seja, um único jogo da temporada teve mais de seis vezes mais audiência do que a temporada regular. Esses números, reiteram, pra mim, duas coisas: a primeira é que a NFL precisa buscar um mercado novo fora dos Estados Unidos e, em segundo lugar, é o evento e não o esporte que é popular. É se pensar grande quando a grandeza reside não em você mesmo, mas no que você pode vender.
No Brasil, não deve ser diferente. Todavia, acredito que além das questões comerciais, há todo esse modismo sobre a novidade acerca da transmissão total do evento bem como todo um ufanismo esportivo absurdo pautado na presença do "marido da Gisele Bündchen" - também conhecido como Tom Brady, quarterback do New England Patriots, de Boston - na partida. É a mesma coisa que acontece no MMA, onde os brasileiros "fanáticos" pelo esporte só o assistem ou sabem que haverá luta quando o Anderson Silva ou o Vitor Belfort estão envolvidos.
Não estou afirmando que todo mundo que  assiste o Super Bowl o faz por tais motivos. Conheço pessoas que o fizeram depois de acompanhar toda a temporada da NFL e por que gostam do esporte. Acredito, apenas, que tomar esse evento como critério para se avaliar a popularidade e o crescimento do esporte é o mesmo que querer avaliar a fotografia de um filme através da bilheteria do mesmo.
Bem, é certo que o esporte é popular nos Estados Unidos, estando presente nas universidades e tendo um forte campeonato universitário. Além disso, como demonstrado acima, também é certo que o esporte vem crescendo no Brasil e terá seu lugar dentro do panteão esportivo. Além disso, também podemos falar da criação de uma Copa do Mundo na categoria a partir de 1999 e que conta com a participação seleções da América, Ásia e Europa. Todavia, uma coisa é crescer, outra coisa é se popularizar.
Os Estados Unidos ainda tem o baseball como seu esporte nacional e, com o aumento das populações de origem latina no país - que são mais familiarizadas com este esporte -, a tendência é que continue assim. Isso sem falar no fortalecimento de outros esportes, que podem pegar um nicho populacional importante, como o próprio futebol e o rugby - modalidade esta que mais cresceu nos EUA em 2010.
No Brasil, para o desespero de algumas pessoas, o futebol nunca deixará de ser o esporte nacional. É algo que está inscrito na, ainda em construção, identidade nacional. Temos também, que como esporte novo em terras tupiniquins, o futebol americano vem disputando espaço com outra modalidade que ser fortaleceu nos últimos anos: o rugby.
E o que tem acontecido no Brasil, dado a realidade do país, é que o rugby vem dando um baile no futebol americano tanto em termos de crescimento como tem termos de popularidade. Pra começar, praticar rugby é bem mais barato que futebol americano: você precisa de uma chuteira e de um protetor bucal, algo que fica bem próximo aos valores gastos com futebol. Em contrapartida, todo o equipamento do futebol americano tem de ser importado - o que eleva os custos em algumas centenas de reais.
Em segundo lugar, temos que há grandes incentivos públicos - financeiros e não-financeiros - para se praticar o rugby dado que o mesmo é novamente, desde 2009, um esporte olímpico. Isso sem falar na consolidação das federações estaduais e no fortalecimento da CBRu (Confederação Brasileira de Rugby) e da seleção brasileira no cenário mundial.
Bem, é certo que o campeonato brasileiro de rugby (Super 10) conta, atualmente, com 10 equipes. Todavia, a Copa do Brasil de Rugby - segunda divisão nacional - está presente em todas as regiões políticas do Brasil, com jogos nestas regiões antes das finais em nível nacional. E, por todo o Brasil não param de surgir equipes de rugby, inclusive fora das grandes cidades - que parece ser uma tendência do futebol americano. Hoje, se desconsideramos a capital - uns dos principais redutos de rugby do Brasil -, o estado de São Paulo conta com cerca de 50 equipes em seu território.
[Atualização 16h21]
Além dessas competições, as federações de rugby tem trabalhado bastante no sentido de formação de atletas, com campeonatos de categorias de base acontecendo cada vez mais regularmente. Posso estar enganado, mas não descobri nada sobre competições de base no futebol americano no Brasil.
[Fim da atualização 16h23]
Isso sem falar na associação que os times de futebol americano tem feito com times de futebol. Bem sei que isso ajuda a dar certa popularizada no esporte, pois atrai torcedores de um time estabelecido para sua equipe. Todavia, é histórico o descaso dos times de futebol com outras modalidades esportivas sob sua tutela quando o futebol vai mal. É só pegar exemplos de times de basquete, vôlei, futebol feminino e futsal - sendo o caso mais recente o time do Santos -, onde tais equipes foram desmobilizadas assim que o futebol começa a ter problemas - seja dentro ou fora de campo. Criando-se sozinhas, as equipes de rugby tem de fortalecer com as próprias pernas, conquistando, assim, sua autonomia.
Ora, para além disso, se pro rugby, que partilha do mesmo sistema métrico do futebol e tem o campo com as mesmas dimensões, o que dizer do futebol americano que usa um sistema métrico (com jardas e pés) totalmente estranhos aos brasileiros?
Sendo assim, o que visualizo é o futebol americano mais organizado, pois os envolvidos com o mesmo - dentro e fora de campo - tem mais dinheiro, e o rugby tendo um crescimento exponencial absurdo e tentando se organizar com os parcos recursos que tem. Tenho certeza de que, em termos de popularidade e, consequentemente de crescimento, o rugby vai se arraigar muito mais que o futebol americano.
Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário: