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segunda-feira, 24 de abril de 2023

Uruguay, Chile e a Copa do Mundo

No dia 9 de outubro de 2021 o Uruguay fez algo histórico: após vitória por 34 a 15 sobre os EUA, classificou-se diretamente para a Copa do Mundo de Rugby de 2023. Em certo sentido, mais histórico foi o Chile: primeiro, tirou o Canadá pela primeira vez da Copa ao vencer os canucks por 33 a 24 em Santiago (no jogo de ida, em Langford, 22 a 21 para os nortistas - Chile 54 - 46 Canadá no agregado); depois, conseguiu se classificar para a Copa ao vencer os EUA, em Glendale, por 31 a 29 (na ida, em Santiago, 22 a 21 para as águias - Chile 52 x 51 EUA no agregado). Com relação aos EUA, a equipe ainda foi para o quadrangular final da repescagem mundial, mas perdeu a vaga para Portugal no saldo de pontos.
Com isso, desde a primeira conquista chilena, acabei vendo muitas pessoas falando em se aumentar o número de vagas para a América na Copa do Mundo ou de se colocar uma vaga direta para a América do Sul. E não discordo que isso deva acontecer. Contudo, vejo que o problema é um tanto maior...
Atualmente, a Copa do Mundo de Rugby comporta 20 seleções que são divididas em 4 grupos de 5 seleções cada. Os 3 melhores de cada grupo já garantem vaga para a Copa seguinte. Com isso, importante saber que as vagas para a Copa do Mundo são divididas da seguinte maneira:

12 vagas diretas da última Copa (vagas automáticas do Top 12)
2 vagas diretas para a Europa
2 vagas diretas para a América
1 vaga direta para a Oceania
1 vaga direta para a Ásia
1 vaga direta para a África
1 vaga pela repescagem mundial

Só nisso já temos um problema: mais das metades das vagas para a Copa já ficam comprometidas antes mesmo da Copa que está ocorrendo acabar. Isso, além de tornar o torneio muito restritivo e elitista, acaba por desestimular encontros entre seleções de diferentes níveis técnicos para além da Copa - algo extremamente necessário quando pensamos em desenvolvimento e evolução do esporte.
Ademais, se olharmos para o fato de que dessas 12 vagas automáticas metade fica com a Europa e um quarto fica com a Oceania, acaba que temos uma sub-representação dos outros continentes. Ainda mais quando observamos que os outros continentes tem mais seleções jogando as Eliminatórias por vagas diretas - vide a África, por exemplo - e que a Ásia, desde 2019, não tem uma vaga direta pra Copa por conta da classificação automática do Japão (2019 como sede e 2023 como Top 12 de 2019). Resumi essas informações na tabela abaixo, feita com dados das Eliminatórias recolhidos nos artigos da Wikipedia em inglês:


Dessa maneira, pensando em um sistema mais inclusivo, mais justo e que possibilite um desenvolvimento e ampliação maior do esporte, entendo que é preciso dois movimento em relação a Copa do Mundo de Rugby: o primeiro, é preciso eliminar a classificação automática de uma Copa para a outra; em segundo lugar, é preciso ampliar o número de vagas na Copa do Mundo (de 20 para 24).
Acerca do primeiro movimento, como já apontei acima, a questão é de você poder dividir com mais igualdade e justiça as vagas entre os continentes. Isso também faria com que seleções emergentes tivessem encontros com seleções do Tier 1 durante as Eliminatórias - algo que, como já disse, é essencial para o desenvolvimento do jogo dessas seleções.
No que tange ao segundo movimento, o aumento de vagas na Copa é, além de premente para uma disputa mais igualitária entre as seleções, interessante financeiramente: aumenta-se o número de jogos sem se aumentar o tempo de disputa da Copa ou de alterar drasticamente o número de jogos por seleção, aumenta-se o público atingido e aumenta-se o número de jogos eliminatórios. Todos esses elementos são essenciais para se ter mais audiência e, consequentemente, ter mais patrocínios.
Para conhecimento, hoje a Copa do Mundo de Rugby, com 20 equipes, dura 44 dias (7 finais de semana) e tem um total de 48 jogos (40 jogos na fase de grupos, 4 jogos nas quartas-de-final, 2 jogos semifinais, 1 disputa de terceiro e 1 final), sendo que cada equipe faz 4 jogos na fase de grupos e pode chegar a 7 jogos total na competição. Com 24 equipes, poder-se-ia dividir as mesmas em 6 grupos de 4 - algo que também eliminaria o chapéu e a diferença no tempo de descanso entre os adversários - com o primeiro e o segundo do grupo se classificando em conjunto com os quatro melhores terceiros. Com isso teríamos um total de 52 jogos (36 na fase de grupos, 8 nas oitavas, 4 nas quartas, 2 na semi, 1 disputa de terceiro e 1 final) - apenas 4 jogos a mais que o modelo atual. E, com essa quantidade de partidas, é possível se manter o tempo do torneio (44 dias) e os finais de semana utilizadas (7 finais de semana). A maior alteração, no caso, seria na quantidade de jogos por equipe: cada equipe faria de 3 a 7 jogos e isso, de certa maneira, é o ponto negativo já que se reduz o número mínimo de jogos que cada equipe faz. Contudo, se nessa mudança houver mais dinheiro entrando, as equipes podem ter a compensação da perda de uma partida com um repasse maior de dinheiro.
Enfim, não duvido que a World Rugby tenha ciência de tudo isso; afinal, não estou escrevendo nada novo ou revolucionário. Mas, no mínimo, fica o questionamento do porquê a atual estrutura ser mantida a despeito de várias alterações que são realizadas pensando em tornar o rugby mais popular e conhecido no mundo.

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