Durante o jogo entre Argentina e Irlanda, na manhã do último domingo, uma fala do Victor Ramalho me chamou a atenção: dentre as possíveis causas da queda das seleções do hemisfério norte nas quartas-de-final da Copa do Mundo de Rugby, estaria o calendário do hemisfério norte. Mais longo e abarrotado que o calendário do hemisfério sul, o calendário do hemisfério norte estaria a exaurir os atletas nortistas. Tal reflexão pode ser lida com maior profundidade e qualidade clicando aqui.
Bem, o que temos aqui é algo bem particular ao estado de São Paulo, já que não se vê em outros estados equipes de divisões menores jogando competições nacionais. Logo, esse é um problema que tem que ser levado em conta pela Federação Paulista. "Ah, mas estamos falando de apenas time num cenário com 38 times jogando as diversas divisões paulista! Não se pode generalizar para o todo!". Bem, isso não é de todo inverídico, mas o Lechuza também poderia ter se prejudicado com o cansaço caso se classificasse na fase preliminar. Já seriam dois times, ainda que o argumento não perca o seu peso.
Ainda assim, o calendário paulista também causa distorções em outro sentido: a Poli, se não se classifica para a fase de grupos da Taça Tupi, ficaria sem competição alguma para o segundo semestre – ainda que pudesse tentar participar do Universitário, competição com poucos jogos e que não impactaria muito no calendário da equipe. O Wally's, na temporada passada, e o Tornados, nessa temporada, sofreram com o fato de não terem competições oficiais no segundo semestre, ainda que os jogadores do Tornados tivessem a opção de jogar pela equipe de desenvolvimento do clube na Série D do Paulista.
Bem, estes são cenários que não existem e tem pouco probabilidade de acontecer. Mas insisto que isso, apesar de improvável, é possível e, com isso, a Federação Paulista tem que estar atenta... Tem de pensar antecipadamente. E, de novo, insisto que, mesmo que seja um único time a ser prejudicado, a Federação tem que pensar em maneiras de minorar isso. Sendo assim, entendo que, como já sugeri à FPR quando era vice-presidente do São Carlos, poderia ser pensada uma competição paulista no segundo semestre que reunisse todas as equipes de todas as divisões que não estivessem jogando nacionais. Com isso, obviamente, as divisões menores do Paulista teriam que começar e acabar no primeiro semestre.
Essas divisões poderiam continuar com 10 equipes cada, mas ao invés de todos contra todos, poderiam ser divididas em 2 grupos de 5, com jogos de ida e disputas finais como atualmente ocorrem: 1º a 4º, 5º a 8º e 9º e 10º. Já a Copa Paulista, nome fantasia pra essa competição do segundo semestre, poderia ser disputada em grupos de 4 a 5 equipes, misturando-se as divisões, e com playoffs para decidir os campeões - Taça Ouro, Prata e Bronze. Com isso, talvez as equipes que só disputassem os paulista tivessem um pequeno aumento no número de jogos por ano: atualmente são 11-12 jogos e aumentaria-se para cerca de 15 jogos. Um número que entendo razoável para equipes amadoras, mas que faria o calendário paulista ter de começar um pouco mais cedo. Além disso, também tem de ser observado como esse aumento impactaria os árbitros paulistas, que já tem se desdobrado para dar conta dos jogos.
Entendo que tal proposta deve mexer com muita coisa, mas ela pode ser positiva para o esporte no estado, fortalecendo-o ainda mais, visto que geraria mais intercâmbio entre as equipes. Além disso, imagino que duas competições para cada equipe no ano podem trazer mais interessados para as mesmas, tanto em termos de patrocínio como em termos de jogadores, além de manter o nível competitivo em alta entre os atletas. E isso, além de tudo, resolveria os problemas demonstrados no texto, sejam eles reais ou possíveis de existência, sem prejudicar as demais equipes.